segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Eu gosto de você

Eu gosto jeito que você chega, me causa palpitações. Não me deixa ansiosa, não me tira do cerne, mas me deixa em completa amabilidade.
Eu gosto do jeito com que você se movimenta, me parece que seus movimentos completam suas palavras e tudo se conecta numa onda magnífica.
Eu gosto jeito com que você me toca, tem carinho de sobra e eu sei que é real, dentro de toda a sensibilidade que nossos corpos nos apresentam, dentro se todas as caixinhas de morbidez e instabilidade, eu me sinto sólida contigo.
Eu gosto do jeito de você fala comigo e fala de mim, eu me sinto mais parte de algo que me pareça menos estranho ou desgostoso para o mundo lá fora, eu te enxergo e tu me enxerga.
E eu gosto do teu beijo, do aperto que você promove quando estamos quase a largar os lábios, corpo a corpo, lesbianas, tribadistas, fazendo revolução a cada movimento.
Eu gosto de você...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

A lua partida e sua ida

A lua está partida bem ao meio, será que você viu?

Ela estacionou bem em frente a minha janela.
A lua vem quando seu cheiro se esvai pela distância

Você me diz tantas vezes que teu amor é meu

E eu te digo, ao som da canção que roubaste pra mim
Que o que tenho de mais valioso em mim é teu 

E ainda que haja valia inquietante nos beijos de amor
É no poetar que eu despejo meu amor, e ele é teu.
Nos últimos mais de trinta escritos que de mim desaguaram 

Não houve um que você não se fez esboço e lapidação
Seus olhinhos que me sugam por inteira fazem da lua
Um clichê de multiplicação dos milênios incontáveis

E é na limitação contabilizadora dos seus dez dedos
Que minhas mãos se encaixam e dançam, e dançam
E logo eu que achei ter me perdido no tempo
Reencontro a ampulheta da vida de trás pra frente
A lua partida ao meio é retrato fiel da sua ida 
E é no chão da sala que eu refaço nossos desejos
E nas coordenadas escondidas no delinear do teu sorriso
Que eu sigo e te encontro em algum novo alumiar

sábado, 3 de maio de 2014

Sobre sonhar e voar

Dormir e acordar não tem sido os melhores momentos do meu dia. Gosto dessa parte de intermédio entre um e outro, a parte em que estou no mais profundo dos sonos,onde tudo acontece e nada me falta o ar, onde a saudade não é pano de fundo pros meus afazeres diários. Gosto desse escurinho, do balanço que a mente proporciona - ou talvez a alma - quando se está aproximando o novo dia, esse quase, essa pequena imersão, a leve amnésia. Não gosto quando acordo, quando realmente desperto e percebo onde e como estou, não gosto da sensação de ser mais um dia a vencer, e não gosto quando deito na cama pra dormir, não gosto da maneira como meu coração dispara, como tenho que manter um controle na respiração para poder me manter sã. Preso e tenho pressa por pegar no sono, por me afundar nos sonhos, nas fantasias.
Louco isso tudo, não?
Tantas coisas mudaram desde que você foi embora, as horas são tão irregulares, e aquela sensação de que eu iria sucumbir já não toma parte integral dos meus dias. Eu tenho tentado ao máximo não pensar, sorrir sem pensar, falar sem pensar, caminhar sem pensar, sair de casa sem pensar.
Mas eu sinto ainda, baby, uma necessidade sistemática de te contar um pouco sobre mim, sobre a minha relação com o mundo, com o meu mundo, sem você.
Nada mais é mecânico, automático, - bom isso, né? - eu percebo cada coisa que faço sem você, eu percebo tanto que quase anestesio, quase não sinto, mas ainda sinto o suficiente pra que muitas vezes por dia eu tenha que parar e respirar algumas vezes profundamente. Tento não cair naquela sensação destruidora de que não irei conseguir sem você, de que não seguirei pelo caminho certo. Estou indo, meu bem, sempre indo, tentando não olhar pra trás, tentando manter a coerência dos vivos, e me apaixonando pela incoerência dos mortos.
Eu gostaria de poder voar, meu amor. Esse é meu maior sonho hoje. Gostaria de ver tudo lá do alto, de cima, e de lá fechar os olhos e só sentir o mundo girar, assim como eu senti quando nos beijamos pela primeira vez.
Fui no parque em que nos conhecemos, ontem, e mantive-me sem olhar pros lados, tive medo de te encontrar a caminhar do meu lado com os pés arrastados e os cabelos ao vento. Tive medo de sorrir ao rever seu sorriso envergonhado e encantador. Tive medo de me apaixonar de novo por você e então eu só segui em frente... Sempre em frente.